Por: A Tribuna
04/03/2020
14:03

Nesse sábado e domingo, dias 7 e 8 de março, a Cia Lázara apresentará cinco cenas da sua pesquisa cênica: Futebol das Paixões Humanas, sobre a vida e obra do dramaturgo Nelson Rodrigues, na Casa do Teatro, a partir das 20h24.

Todas as cenas terão como protagonistas femininas, e por esse motivo a compilação de esquetes terá o título “Mulheres do Paraiso Zona Norte”. O ingresso tem o preço único de R$10,00 e é recomendável a partir de 14 anos.

 

Saiba mais sobre as cenas que serão apresentadas:

BONITINHA, MAS ORDINÁRIA OU OTTO LARA RESENDE

Nelson Rodrigues conta que a ideia e o título da peça surgiram de seu fascínio por frases que carregam uma marca. Uma marca que traduz toda uma concepção sobre determinado tema em poucas palavras, tendo um enorme desejo de criar uma peça cujo título fosse uma frase. A frase que ele atribui ao seu amigo Otto Lara Resende "O mineiro só é solidário no câncer" lhe surgiu ao acaso. Uma vez viajando para Belo Horizonte para resolver algumas questões sobre as apresentações de suas peças, Nelson acaba encontrando Otto e pega uma carona com ele. Durante o percurso, em um surto de inspiração, Otto olha para Nelson e diz: "O mineiro só é solidário no câncer" uma frase que continha mais sociologia do que as 600 páginas de Os Sertões de Euclides da Cunha , segundo Nelson Rodrigues, e foi com ela que ele criou Bonitinha, mas Ordinária ou Otto Lara Resende.

A peça gira em torno da frase "O mineiro só é solidário no câncer.", repetida 18 vezes, onde perdura a crença de que o homem é um lobo do próprio homem e a bondade só é apenas a exceção, num mundo tão desprovido de compaixão. Na adaptação escrita pela atriz e dramaturga Elisa Monteiro, a peça se transforma num solo, narrado por Maria Cecilia vivida pela atriz Giulia Bicudo.

 

SUZANA FLAG

Flag, Suzana Flag. Esse era o codinome usado por Nelson Rodrigues para assinar alguns folhetins publicados nos jornais de Assis Chateaubriand. Corria a década de 40, e a segunda peça do dramaturgo, "Vestido de Noiva", revolucionava o teatro nacional nas mãos de Ziembinski. Se "Vestido de Noiva" marcou o início do moderno teatro brasileiro, as

intrigas de Suzana Flag bebem de outra fonte. São histórias rocambolescas, cheias de revelações, que apelam mais para os instintos do que para o cérebro. Chamam-se folhetins, e alguns gostam de ressaltar a semelhança com as novelas de TV. O primeiro de Nelson, "Meu Destino É Pecar", foi tamanho sucesso que o autor publicou outro, "Escravas do Amor", no mesmo 1944.

O ator Caique Costa vive Suzana Flag e ainda fazem parte da cena: Caio Silva, Fabiane Bueno, Kaique Oliveira, Talita da Silva, Livia Santana, Natalia Pereira e Giovanna Lopes.

 

MYRNA: O CONSULTÓRIO SENTIMENTAL DE NELSON RODRIGUES

É no Diário da Noite, em 1949, que surge o pseudônimo, Myrna. Esta mulher, de duração meteórica, oito meses apenas, causa furor nas páginas do jornal — primeiro no consultório sentimental,“Myrna escreve”, respondendo às cartas de leitores, sobretudo das leitoras, pois Myrna é expert nas questões do coração. E é esta persona que escreve o romance em folhetim A mulher que amou demais, veiculado também no ano de 1949. Não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo é uma reunião de algumas das “cartas” desta coluna. Na pele de Myrna e de Suzana Flag, vemos aflorar um escritor que “fisga” seu leitor, sem constrangimento, perambulando tanto pelos caminhos de uma sensibilidade ímpar quanto espreitando o clichê mais banal. É essa a literatura de Nelson Rodrigues — feita de grandes mulheres. Suas personagens femininas são sempre fortes: amam, sofrem, traem, desejam, se submetem, conquistam ou “se deixam perder”. As mulheres de Nelson dão e são o ritmo, a voz narrativa de sua liturgia. Zé Vitor Lima personifica a personagem título com participação de Caique Costa como Mirandinha.

 

VALSA Nº 06

A peça Valsa nº 6 foi a décima peça, escrita por Nelson Rodrigues em 1951. Foi a irmã do dramaturgo, Dulce Rodrigues, a escolhida para encarnar a personagem única; a direção foi assinada por Madame Morineau. Sônia, uma menina assassinada aos quinze anos de idade, luta para, entre um delírio e outro, conseguir montar o quebra-cabeça de suas memórias. Os delírios e memórias, a morte, o universo feminino, a violência, são peças desse quebra cabeça.

Na encenação da Cia Lázara Sonia é interpretada por Giovanna Lopes, sua mãe Talita da Silva e se duplicando nos papeis do velho tarado Dr. Junqueira e Nelson Rodrigues interpretados por Kaique Oliveira.

Nessa exploração de uma intimidade, o lirismo assume papel importantíssimo. Se o Drama tradicional busca purificar-se das marcas de outros gêneros, Nelson Rodrigues corajosamente assumia a poesia em sua escrita. Sonia relaciona-se com o mundo à maneira de um Eu Lírico, associando livremente, projetando, imaginando, sentindo com intensidade. O trunfo é que tal característica está pronta a colocar-se a serviço da teatralidade, não se encerrando em si mesma. Nelson escreveu uma peça de teatro que gera no espectador impressão semelhante à de quem escuta a Valsa nº 6, de Chopin. A recusa do ideal puro de Drama, a contaminação da dramaturgia por outros gêneros textuais e o desejo do teatro de “antropofagizar” conquistas de outras artes: tudo isso é característica das vanguardas históricas.

 

PERDOE-ME POR ME TRAIRES

Glorinha tem 16 anos e perdeu a mãe, assassinada por seu tio Raul. Objeto de desejo do assassino, ela é vigiada por ele, sob o pretexto de preservar sua castidade. Mas, conduzida por uma colega de escola que é prostituta, Glorinha acaba conhecendo e se fascinando pelo mundo dos bordéis, ao mesmo tempo em que prepara uma terrível vingança.

Perdoa-me por me Traíres é uma ‘Tragédia de Costumes’, escrita por Nelson Rodrigues, e que estreou em 1957, tendo o próprio dramaturgo vivendo tio Raul, e que segundo os relatos de quem assistiu Nelson foi um dos maiores canastrões da história do teatro brasileiro.

Elenco: Giulia Bicudo, Cleber Donizete, Caio Silva, Fernando Ferro Juliana Alcântara , Lívia Santana, Talita da Silva, Gabriel Lujan e Giovanna Lopes.

Adaptação, Cenografia, Figurinos, iluminação, trilha e Direção: Alexandre Cruz

Arte: Giovana Gabriel


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