O Coachella deste ano teve três brasileiras: Anitta, Pabllo Vittar e uma atração da música eletrônica, a DJ Anna, de Amparo. Além do festival californiano, ela tocou no Tomorrowland, no Ultra e fechou o Rock in Rio. Ela fez o último show do palco New Dance Order, entre 2h e 4h, no domingo, 11 de setembro.
Anna Lidia Miranda é uma DJ paulista de techno com mais de 20 anos de carreira. Estreante no Rock in Rio, ela começou tocando axé na boate do pai dela, o club Six em Amparo, entre 2000 e 2002. As apresentações com músicas realmente populares brasileiras reuniam por volta de 1500 pessoas na pista.
"Com 15 anos, eu já estava conduzindo uma pista por sete horas sozinha", lembra ela ao G1. "Era muito forte o axé naquela época, com aqueles programas de TV no domingo, mas depois eu comecei a colocar outras coisas no set e com o tempo eu descobri a música eletrônica."
Em 2002, ela se apresentou no Rio, naquela que foi a primeira apresentação "profissional". Em vez de axé com CDs, tocou música eletrônica com vinis. Era um show de abertura para o DJ Mau Mau, apelido de Mauricio Bishain, nome super prestigiado na cena eletrônica brasileira com mais de 35 anos de carreira.
Na adolescência, Anna se dividia entre os treinos de vôlei e os ensaios no porão da avó, também em Amparo. "Eu queria até jogar profissionalmente, mas aí a música entrou na minha vida e esqueci de tudo", conta ela. "Eu praticava oito horas por dia e quando eu não estava praticando, eu estava pensando em música. Usava equipamentos reservas do meu pai, mas ele nunca me ensinou nada."
Hoje com 37 anos, a DJ ficou nesse esquema de porão laboratório e boate do pai dos 14 aos 18 anos, quando se mudou para a cidade de São Paulo. "Foi tudo acontecendo organicamente", explica ela.
"Quando eu digo que meu pai tem um club pode parecer que eu tinha essa 'entrada', mas não era isso. Era só um club no interior de São Paulo e ele não conhecia ninguém. Eu não conhecia ninguém, então foi um processo super orgânico e foi longo. Alguém me via tocar e perguntava 'Quem é essa menina?' e aí eu tinha mais um lugar para tocar.", disse
Com esse burburinho em torno do nome dela, Anna foi chamada para uma agência de DJs. Foi mais um passo para aumentar a agenda de shows com plateias maiores e em lugares mais falados da cena. Essa transição foi em 2005. Antes disso, ela fazia tudo sozinha: cuidava dos equipamentos, dos setlists e da marcação de shows.
"Mas eu nunca cresci muito no Brasil, eu tinha minhas 'gigs' [shows], mas era coisa pequena, sabe? Não era nada como hoje. Eu só ganhei visibilidade no Brasil quando eu saí e fiz sucesso na Europa, aí eu fui reconhecida."
Anna tem o apoio de alguns DJs tarimbados, como o britânico Carl Cox. "Ele é o pai da coisa toda, sempre foi ídolo. Sempre admirei o jeito que ele tocava e mixava. Aconteceu de a gente tocar junto em alguns lugares e ele me chamou para tocar na festa dele."
Anna foi eleita Artista Revelação no DJ Sound Awards 2016 e apresentou um set na rádio BBC 1, mas ela considera essa parceria com Cox como talvez o feito que mais a deixou pensando "Uau, como eu fiz isso? Como eu cheguei aqui?"
"Quando eu comecei a tocar, sinceramente o que eu queria era ter dinheiro suficiente para pagar o meu aluguel em São Paulo, conseguir viver disso. Se você me dissesse naquela época que eu iria morar na Europa e tocar nos principais festivais do mundo eu te diria que isso era impossível."
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