Preparo físico, alimentação, determinação e muita prática. Não há dúvida de que esses são itens essenciais para que um atleta consiga alavancar seu desempenho. Mas a ciência já comprovou que a herança genética também desempenha um papel fundamental na capacidade esportiva do corpo humano.
A partir da revisão de diversos estudos científicos e entrevistas com pesquisadores, o jornalista norteamericano David Epstein escreveu o livro “A Genética do Esporte”, publicado em 2013. No livro, Epstein fala sobre o papel de alguns dos genes que compõem o DNA de superatletas como o nadador Michael Phelps, com seus 37 recordes mundiais e o maior número de medalhas de ouro olímpicas em uma única edição (Pequim, 2008).
Algumas pré-disposições genéticas associadas com o desempenho esportivo não são uma surpresa: é conhecido que o DNA influencia no peso corporal, como é possível observar em linhagens familiares. Outras descobertas são mais específicas. É o caso do gene ACTN3, chamado gene Sprint, que influencia diretamente na performance esportiva. Ele é responsável por codificar uma proteína encontrada somente nas fibras musculares de contração rápida, usadas para velocidade e movimentos de explosão, propiciando a prática para triatletas, por exemplo. Se uma pessoa tem duas cópias da chamada ‘versão errada’ do ACTN3, não poderá atingir o mesmo que os que nasceram com o favorecimento genético.
Existem também genes que beneficiam o desenvolvimento de força e resistência física, que podem auxiliar a prática de fisiculturistas e halterofilistas, entre outros. As pesquisas científicas têm progredido cada vez mais para identificar quais as características do DNA que podem facilitar diferentes modalidades esportivas. Entretanto, a presença de uma característica genética que favoreça a prática de qualquer esporte não invalida a necessidade da dedicação e comprometimento.
Epstein ainda inclui duas informações importantes em seu livro. A primeira é que não existe um atleta geneticamente perfeito. A probabilidade de alguém ter um genoma completamente favorável para alguma modalidade esportiva é menor do que de um quadrilhão para um. Ou seja, são mil bilhões de pessoas para cada uma que tenha essa característica genética.
A segunda é uma boa notícia: a presença de um gene que favoreça a prática de algum esporte não é tão incomum quanto parece. Pelo contrário, o jornalista conta que a maior parte das pessoas no mundo pode possuir um DNA favorável para alguma modalidade esportiva: das sete bilhões de pessoas no mundo, seis bilhões possuem algum genoma que beneficie sua capacidade esportiva. Na verdade, bem mais do que somente um genoma: cerca de 66% da variabilidade da performance atlética pode ser explicada por fatores genéticos aditivos. Entre elas, a capacidade de resistência, o desempenho muscular, susceptibilidade a lesões, composição de massa de um organismo, e de aptidão psicológica.
É possível uma ampla combinação de diferentes genes envolvidos com o metabolismo e todas as vias relacionadas ao exercício para que sejam criados essas características, chamadas fenótipos. O restante dessa variação é explicado por fatores ambientais e comportamentais, como a alimentação e a prática.
Todas essas informações são muito interessantes, mas elas têm aplicações práticas? É claro que sim. Como David Epstein aponta em seu livro, identificar a presença de tais genes e suas propensões a modalidades esportivas é útil para otimizar o treino dos atletas e, assim, ajudá-los a “juntar suas paixões e a sua capacidade genética, os tornando o melhor que podem ser”.
Na prática, todos os estudos realizados para identificar quais as combinações genéticas responsáveis pela criação de cada fenótipo serviram para conceber uma nova abordagem no treinamento e acompanhamento de atletas, que passou a ser personalizada e bastante precisa. Em outras palavras, compreender as vantagens e obstáculos pré-dispostos geneticamente é valioso para o planejamento preciso de orientações para um melhor desempenho possível.
O estudo da genética já consegue auxiliar diretamente em três aspectos principais:
— Determinação da modalidade: diferentes combinações genéticas resultam na aptidão a diferentes modalidades esportivas. Escolher o esporte mais adequado para as aptidões específicas de cada indivíduo já é meio caminho andado para alcançar um bom desempenho.
— Nutrição: A nutrigenômica, ciência que estuda o efeito dos nutrientes em cada indivíduo a partir do perfil genético, possibilita a criação de uma dieta individualizada que aumente o potencial esportivo do atleta. Esta parte é importante para adequar, por exemplo, a alimentação de indivíduos que têm alguma deficiência na absorção de algumas vitaminas. Neste caso, com a suplementação.
— Monitoramento de lesões: existem variantes genéticas associadas à uma maior predisposição à lesões. Com essa informação o preparo do atleta também passa a ser individualizado, com o objetivo de prevenir sua ocorrência.
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Este tipo de análise genética é mais comumente realizada em atletas profissionais, mas não é uma ciência exclusiva. Ela também pode ser bastante útil para esportistas que querem melhorar a qualidade de seu treino, seja na academia, ou em qualquer modalidade que tenham interesse.
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