Antonio Carlos de Oliveira
Às vezes, coisas simples,comuns é que nos agradam. Por exemplo, quase diariamente, depois de ler cobras e lagartos sobre o Brasil em dois grandes diários, tento “matar” as palavras cruzadas. Fico alegre e feliz, quando consigo resolver as publicadas pela Folha de S. Paulo . São muito difíceis, quase indecifráveis. Atinjo a fabulosa cifra de duas vezes por mês. Mas vale a pena. Gostaria de saber quantos leitores alcançam o brilhante objetivo de resolver diariamente o tal quebra-cabeça. Talvez cinco por cento?
Ali, naquele angu de letras e palavras, o cabra da peste tem que ter um conhecimento enciclopédico e um vocabulário aureliano. Uma coisa simples pode ser comum, corriqueira? Muitas vezes, não. Aquelas que me encantam, por exemplo, são simples , mas não tão comuns. Gosto de exercícios físicos, leituras, caminhadas, produzir textos e pensamentos e outras atividades mais amenas. Ouvir músicas e observar as maravilhas da natureza são, aparentemente, atividades simples e comuns, mas exigem senso de observação e boa dose de sensibilidade. Certo dia, passando pelo Largo do Rosário, fiquei observando alguns pássaros por entre as copas das árvores. Em dado momento, quedei-me, extasiado, fitando um pássaro, saciando a sede nas águas do laguinho. Posso até jurar: nunca, em toda minha vida, vi um passarinho tão maravilhoso como aquele. De que modo descrever a preciosidade? Tinha o dorso azul, o ventre verde, a cabeça vermelha, o bico negro. Aquele azul era inimitável e me fez lembrar os versos do Paulinho da Viola: “Não posso repetir aquele azul, não era do céu, não era do mar...” Para descrevê-lo com arte e competência, haveria a necessidade de um ornitólogo. Da minha parte, só posso concluir que o tal passarinho não era mais colorido por verdadeira falta de espaço. De tantas incapacidades que trago comigo, uma delas é não entender nada de pássaros e de outros tipos de ave. No Largo do Rosário, nesta época do ano, (setembro e outubro), há quase sempre um sabiá abrilhantando o dia com seu cantar mavioso. Isto me faz lembrar da música ‘Um ser de luz” composição de João Nogueira, Paulo Cesar Pinheiro e Mauro Duarte. Trata-se de uma justa homenagem à extraordinária cantora Clara Nunes de saudosa memória. Confesso que a primeira vez que ouvi esta música, interpretada pela famosa Alcione, meus olhos ficaram marejados. Realmente, a música popular brasileira é de uma beleza iluminada além da luz do luar e mora com as estrelas... A simplicidade pode ser deslumbrante.
Nota da redação: Antonio Carlos de Oliveira é membro da Academia Amparense de Letras
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