É com profunda tristeza que informo aos amigos que faleceu, às 7h15 de hoje, 10 de março, o dr. Adib Feres Sad, mestre e amigo. O “Sol de Amparo” se pôs, definitivamente, no plano terreno, ocultando de nossos olhos o seu brilho imensurável para seguir rumo à Pátria do Eterno.
Entre as sete parábolas bíblicas, explicadas por Jesus, do púlpito de uma barca de pesca, no lago de Genezaré (ou mar da Galileia), está, em primeiro lugar, a do semeador. Todo homem que escreve, multiplicando e espalhando o seu pensamento, repete, na Terra, a figura dessa parábola. Adib Feres Sad, brasileiro, mas filho de libaneses naturais de Jebail, a antiga Biblos, então capital da Fenícia, a cidade mais antiga do mundo, foi um desses semeadores, espalhando, generosamente, como advogado, como homem de letras, como exemplo de trabalho mental, como tribuno e como pensador, a harmonia silenciosa das ideias, o deslumbramento da retórica fulgurante e a força incontrastável do argumento sólido e robusto.
Forma-se a inteligência humana com o mesmo mistério e sacrifício com que se forma o diamante. Adib Sad, do alto de seus 93 anos, multiplicou a cultura e se fez um sábio, além de mestre da palavra, mas, mentalmente, se conservava o mesmo jovem que já foi um dia, abeberando-se nos clássicos, acrescentando à retidão do seu caráter o espírito de beleza que fez a glória dos gregos da antiguidade. Contudo, o corpo físico já reclamava por descanso.
Buscando nos escaninhos da memória quando eu o conheci, revejo-me com 15 anos, na noite de 9 de novembro de 1985, num evento beneficente chamado “Uma Noite no Líbano”, organizado por ele e por sua esposa, dona Nádia Kassouf Sad, evento que, pelo prestígio de seus organizadores, atrairia a presença do sheik Samir Shalabi, representante dos Emirados Árabes Unidos, e o então cônsul do Haiti, Georges Samuel Antoine. O tempo e a lei da afinidade cimentariam uma amizade indissolúvel que, num crescente, nos liga até hoje.
Convivi com dr. Adib – como nós o chamamos – de maneira muito próxima durante 20 anos, de fevereiro de 2000 a fevereiro de 2020, período em que ele presidiu a Academia Amparense de Letras. E, até março desse mesmo ano, quando o advento da pandemia teve o condão de ocultá-lo de nosso convívio (pois a idade avançada lhe impôs uma rígida quarentena), seu escritório de Advocacia era a Meca para onde nós, seus amigos e discípulos, nos voltávamos para haurir seu luminoso conhecimento.
Montesquieu nos ensina que o ouro não é melhor que a lama, e que esta só é depreciada por ser abundante. Trata-se de uma convenção, e essa convenção nasce do caráter de coisa rara, que emprestamos ao ouro. A cultura de dr. Adib era rara e diferenciada como o ouro maciço, de 24 quilates, que é o ouro cem por cento puro, atributo que se soma à sua grandeza moral e à bondade do seu coração, num tempo em que os homens de real valor são escassos.
Partiu dr. Adib Feres Sad, o sábio humaníssimo cujo excedente de sabedoria e de grandeza moral foi o norte de muitas gerações, dentre aqueles que tiveram, como eu tive, a honra e o privilégio de privar de sua amizade. Merece e merecerá sempre, por parte de vivos e pósteros, todas as homenagens possíveis – inclusive, e principalmente, por parte do Poder Público Municipal, que, por certo, encontrará uma maneira de perpetuar na perenidade do bronze a gratidão imperecível do povo de Amparo, que ele tanto amou e a quem tanto se doou.
Minhas condolências à esposa, senhora Nádia Kassouf Sad, aos filhos Fábio, Soraya e Adib, às noras Patrícia e Kelly, aos netos e demais familiares.
Nota da redação: Marcelo Henroque é jornalista e poeta
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