Sou um defensor visceral da pluralidade de ideias. Mas o que dizer do terraplanismo? Retornamos à Idade Média?
Quanto aos movimentos antivacina, é bem verdade que existem desde que elas, as vacinas, foram inventadas no Século XVIII. Contudo, admiti-los em pleno Terceiro Milênio, e no auge de uma pandemia, é, no mínimo, compactuar com a possibilidade de adoecimento e morte de nosso semelhante (e de nosso dessemelhante também), ou seja, um misto de ignorância e de maldade.
Interessante que, no mais das vezes, o negacionismo caminha de mãos dadas com o fanatismo religioso de algumas denominações evangélicas (em que pese meu máximo respeito à fé e à crença de cada um), excetuando-se, honrosamente, a presença vigorosa e construtiva do segmento evangélico progressista, do qual fazem parte igrejas inclusivas, grupos teológicos e movimentos identitários, cujos fiéis, felizmente, têm o descortino mental de pregar contra o negacionismo e contra a desigualdade social – o que já basta para serem rotulados de “esquerdistas”.
Com o escopo de defesa pessoal, de prática de tiro esportivo ou, ainda, brasonando o status de “colecionadores”, quantos civis não têm se armado até os dentes, incentivados pela atual gestão federal? Triste demais! Eu só não consigo parar de rir, ainda que seja por dentro, desses “tiozões” barrigudos, de meia-idade, bolsonaristas, que, sendo civis, se travestem com roupas militares, camisetas camufladas (não raro exibindo armas de fogo) e fazem apologia do armamento da população, esses mesmos que, a seu tempo, não serviram nem para prestar o Serviço Militar, tampouco conhecem o verdadeiro sentido de patriotismo – atualmente apoucado pelo “capitão”.
Armar a população, além de não melhorar ou fortalecer a Segurança Pública (que já tem suas forças policiais devidamente preparadas e treinadas para isso), possibilita que mais armas cheguem à mão de narcotraficantes e até de bandidinhos de meia pataca, de capuz e boné, os tais “noias”, que assaltam nosso comércio e vitimam o cidadão trabalhador.
Entre armas e livros, escolho os livros; entre o negacionismo e a ciência, escolho a ciência. Entre a fé e a razão (pontuadas na conhecida “Prece de Caritas”), fico com ambas, sem abrir mão do equilíbrio e da lucidez. Afinal, não à toa, Deus nos deu a razão, e precisamos usá-la ao lidar com nossa fé.
Vivemos dias de “fé cega, faca amolada”. A conhecida canção de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos nunca fez tanto sentido.
O negacionismo, construído sobre os frágeis alicerces das “fake news”, é a virulência da ignorância. É uma arma de destruição à parte durante a pandemia que, a duras penas, atravessamos – uns sobrevivendo a ela, outros não. Portanto, muito mais letal que o próprio coronavírus.
Nota da redação: Marcelo Henrique, poeta, escritor e jornalista. Amparo.
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