Por: A Tribuna
19/05/2020
11:05

Após o fim da ocupação nazista na França, milhares de mulheres foram vítimas de escrachos públicos em decorrência de relações estabelecidas com soldados alemães durante a Segunda Guerra Mundial. Esses acontecimentos, ocorridos entre 1943 e 1946, ficaram conhecidos como Épuration légale, purgas legais, ou ainda, através da denominação das vítimas, de les femmes tondues, as mulheres tosquiadas, em razão da principal punição dada às mulheres ter sido a raspagem de suas cabeças.

O crime que essas mulheres teriam supostamente cometido era o de terem mantido relações sexuais com soldados alemães durante o período de ocupação nazista na França. Elas eram acusadas de “colaboração horizontal” com um inimigo de guerra, o que as levou a serem alvo de linchamentos morais públicos.

A prática da purga legal realizada contra as mulheres consistia na raspagem de seus cabelos, um dos símbolos da sedução feminina, e no desfile público pelas ruas das cidades, vilas ou mesmo pequenas aldeias nas áreas rurais após a expulsão das tropas nazistas desses locais. Muitas das mulheres eram também despidas e marcadas com a suástica nazista através de tintura ou mesmo com ferro quente. Além de toda a humilhação, elas foram condenadas a penas de seis meses a um ano de prisão em decorrência da suposta colaboração com o inimigo.

Vinte mil mulheres

Possivelmente cerca de 20.000 mulheres foram alvos das purgas legais na França. As acusações geralmente eram feitas por vizinhos ou mesmo por reais colaboradores dos alemães que pretendiam desviar a atenção de suas ações de apoio ao inimigo de guerra. Muitas das vítimas eram prostitutas, que no trabalho de venda do corpo não distinguiam a nacionalidade, tendo clientes tanto franceses quanto alemães.

Outras vítimas eram jovens mães que tiveram seus maridos como prisioneiros de guerra em campos alemães e que, durante a guerra, não tinham meios de conseguirem apoio material para sua sobrevivência. Um dos meios para conseguirem alimentos para si e seus filhos era através de relações sexuais com soldados alemães.

Outros países

A perseguição não se limitou a França, quase todos os países do bloco europeu de aliados fizeram o mesmo. Na Noruega, cinco mil moças que deram à luz filhos de alemães, foram condenadas a um ano e meio de trabalho forçado. Quase todas as crianças foram declararas pelo governo como deficientes mentais e enviadas para uma casa para retardados, onde foram mantidas até os anos 60.

Infelizmente não é tudo, a União Norueguesa para as Crianças da Guerra depois declarou que a "desova nazista", como chamavam essas crianças, foi usada indiscriminadamente para testar medicamentos não aprovados. Somente em 2005, o parlamento norueguês publicou um pedido formal de desculpas a essas vítimas inocentes e aprovou a compensação para as experiências no valor de 3 milhões de euros. Este valor pode aumentar se a vítima fornecer provas documentais de que tenha sofrido algum tipo de discriminação racial diante do ódio, medo e desconfiança por causa de sua origem.

Segundo o historiador francês Fabrice Virgili, as purgas legais contra as mulheres foram uma violência patriótica e viril, a afirmação de uma punição masculina, fortemente sexual. Mas tal prática não ocorreu apenas no final da II Guerra Mundial. Os fascistas partidários de Franco na Espanha tiveram expediente semelhante contra as mulheres republicanas. Tais práticas demonstram que os horrores das guerras e das ações humanas não se limitam apenas às mortes nos campos de batalha.


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