Por: A Tribuna
28/04/2020
11:04

Maria Emma Hulga Lenk Zigler, ou Maria Lenk, como era conhecida, foi a primeira mulher brasileira e sul-americana a competir em Jogos Olímpicos. Aos dezessete anos, já era uma atleta de nível internacional. Foi a primeira mulher sul-americana a competir em Olimpíadas, nos Jogos de Los Angeles, em 1932. Ela participou das provas de Natação. Juntamente com outros 68 atletas da equipe brasileira, Maria Lenk custeou a viagem para competir nas Olimpíadas de Los Angeles vendendo o café que levaram no porão do navio. Porém, a nadadora, que também era professora de Educação Física, teve uma passagem por Amparo ministrando aulas em 1937, no Ginásio Estadual, e curiosamente se envolveu numa polêmica com um dos padres da época.

A passagem de Maria Lenk por Amparo pode ser conferida no livro “Braçadas & Abraços” (Gráfica Bradesco S/A, 1982 – edição patrocinada pelo Grupo Atlântica - Boa Vista), de sua autoria, que mostra parte da sua vida. Diz o trecho do livro: “Já então diplomada em Educação Física, assumiu o cargo inicial de professora em Amparo, pequena cidade de interior do Estado (era praxe, na época, iniciar-se a carreira de professor no interior para futura promoção à capital); deixou, também, de renovar sua inscrição na Federação Paulista de Natação, o que a afastou das competições. Por outro lado, seu amor ao desporto fez com que não só implantasse a Educação Física Feminina no então maior estabelecimento de ensino local, o Ginásio Estadual de Amparo, como ainda despertasse o entusiasmo da Diretoria de um pequeno clube desportivo local para melhorias em uma piscina aí existente, onde, depois, se realizaram treinos regulares, sub sua orientação, e organizaram-se competições de Natação”.

O Ginásio Estadual de Amparo funcionava onde hoje está estabelecido o Conservatório Integrado. Já o pequeno clube desportivo era o Club Amparense de Natação e Esportes, onde hoje está estabelecida a Associação Esportiva Irapuã.

O livro relata ainda a paixão de Maria Lenk pela Natação, o que a levou a praticar esse esporte nas águas do Rio Camanducaia. No livro, é relatado o seguinte sobre o assunto: “Enquanto a piscina estava em reforma, não dispensou, ela própria, a prática do seu desporto, indo nadar num rio próximo, que banhava a cidade”. Porém, o mesmo livro lembra que a profundidade do rio era insuficiente para a prática da Natação, além de o rio ser poluído por esgotos, que, na época, nele eram despejados in natura.

Se por um lado Amparo conhecia a Natação através de Maria Lenk, a passagem da atleta pela cidade foi marcada pela então posição conservadora de alguns setores do município em relação às práticas desportivas. No livro, é revelado o seguinte “A reação dos mais conservadores, numa comunidade extremamente católica, não se fez esperar; Maria Lenk criara seus primeiros inimigos gratuitos, que a ameaçaram de excomunhão. Havia também os mais progressistas, que não só cooperavam no desenvolvimento da Natação local como até elogiavam as atividades de Maria”. A confusão, segundo apurou-se, era o fato de Maria Lenk utilizar maiô para praticar a Natação. O traje, na época, era considerado ofensivo para muita gente. 

No dia 7 de agosto de 1937, o jornal paulistano Diário de São Paulo publicava a seguinte nota: “Quando um esportista militante, possuidor de traquejo social e sólida cultura, dotada de boa vontade, transfere sua moradia para uma localidade qualquer, não tardam a se manifestar os benéficos efeitos de sua influência. É justamente o que está se passando na progressiva cidade de Amparo, onde há alguns meses reside a nossa campeã internacional Maria Lenk. Esta nadadora, que tantas glórias esportivas proporcionou ao nosso país, continuando na sua obra de difusão das atividades aquáticas, tem conseguido imprimir-lhes, ali, extraordinária motivação”.

Apesar da resistência, o trabalho de Maria Lenk deu resultados em Amparo, fazendo com que jovens da época vencessem competições. “Apologista ferrenha da Natação, Maria Lenk não renunciou. Persuadiu a Diretoria do simpático Club Amparense de Natação e Esportes a reformar sua piscina e motivar os filhos dos sócios a aprender a nadar e treinar, visando à participação nos 1ºs Jogos do Interior. O entusiasmo contagiou a todos os desportistas quando um grupo de heroicos amparenses voltou campeão, conduzindo orgulhosamente taças, troféus e medalhas, conquistadas. Curioso é mencionar que, por isso, a professora inovadora fora acusada de pecadora, merecedora de excomunhão, já que incentiva as meninas da cidade ao uso de maiô (ainda que longo e fechado) e de calção de ginástica (ainda que comprido e de bombacha). Por outro lado, o treinamento dela ficou em segundo plano”, segundo relato contido no livro “Braçadas & Abraços”.

Maria Lenk faleceu aos 92 anos de idade, no dia 17 de abril de 2007, por parada cardiorrespiratória, após exercitar-se na piscina do Clube de Regatas Flamengo, no Rio de Janeiro.


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