Por: Paulo Domingues - A Tribuna
02/03/2020
10:03

Um dos maiores sonhos do homem sempre foi voar. O brasileiro Santos Dumont foi o primeiro homem a levantar um voo com uma máquina mais pesada que o ar em 1906. Desde então, a tecnologia aeronáutica vem avançando fortemente, fazendo com que o homem chegasse à Lua em 20 de julho de 1969 e, atualmente, transporta milhões de pessoas todos os dias para todos os cantos do planeta. Hoje, alguns acidentes aéreos deixam marcas profundas, talvez pela grande quantidade de vítimas que provocam; porém, não podemos afirmar que o avião não é um meio de transporte muito seguro.

Em junho de 1992, estava eu na Redação de A Tribuna quando recebi um convite do então vendedor de publicidade do jornal Roberto Canina. Dizia ele que havia conversado com o empresário Pasquale Lena que, na ocasião, pertencia ao grupo Caipiras do Ar, que reunia pilotos de Trike, que consiste em uma asa-delta motorizada. Segundo Roberto, o grupo estava interessado em divulgar o seu hobby e suas máquinas voadoras. Completava Canina afirmando que eu poderia, na condição de passageiro, fazer um voo panorâmico sobre a cidade de Amparo, fotografar e mostrar a emoção desse momento. 

Aceitei o convite e no sábado, 6 de junho de 1992, à tarde, por volta das 14h, numa pista de terra, feita às pressas numa área próxima à antiga Cerâmica Gerbi, onde, hoje, está localizado o Centro de Distribuição da Ypê. Lá estávamos meus sócios do jornal e eu para realizar um voo sobre Amparo.

Pasquale seria o primeiro a decolar. Vesti um capacete branco (semelhante ao do Frango Sadia) e, acompanhado do empresário, iniciamos o voo. Naquela ocasião, o Trike era uma asa-delta com motor rotaz de 50 Hp, pesando 115 quilos. A velocidade média que poderia ser desenvolvida no ar não chegava a 70 quilômetros por hora. Com tanque para 20 litros, era possível realizar um voo de 2h15.

Lá no alto, percebi que Pasquale realmente conhecia o que estava fazendo. As manobras seguras mostravam como era boa a sensação livre de voar. Por cerca de 45 minutos, fotografei a cidade de Amparo. Na época, usávamos filmes Kodak para 36 fotos. O meu medo era que, no momento de trocar o filme, poderia haver um descuido fazendo com que ele caísse da minha mão e, assim, eu perdesse todo o trabalho. Porém, felizmente, isso não aconteceu.

Depois de tiradas as fotos, Pasquale lembrou que teria que pousar, pois mais pessoas também queriam voar. Concordei e, assim, começaram os preparativos para a aterrissagem. Inicialmente, tudo correu muito bem, porém, logo que o Trike tocou o solo, Pasquale sentiu que não seria possível pousar naquele momento. Assim, ele percorreu um pequeno trecho da pista e, em seguida, levantou voo novamente (arremetendo). Fiquei preocupado e perguntei ao piloto o que havia acontecido; ele me respondeu que houve um problema e tentaria descer novamente.

Depois de sobrevoar o pequeno aeródromo, construído para receber naquele final de semana os Caipiras do Ar, ele tentou novamente aterrissar com o Trike que começou a percorrer a pista, mas, num determinado momento, a pequena roda da frente, que dava sustentação, arrebentou. A estrutura tubular do aparelho ficou no chão e o Trike começou a capotar. Como era junho, o tempo e o solo estavam muito secos; então, uma grande nuvem de pó se levantou fazendo com que o Trike sumisse por um determinado tempo, dando uma impressão, para quem assistia à aterrissagem, de um terrível acidente. Após o capotamento, percebi que estava de ponta-cabeça, preso em cabos de aço e com as roupas encharcadas de gasolina. 

Por sorte, no local, havia outros integrantes do grupo Caipiras do Ar, que nos ajudaram a sair do que sobrou do Trike. Pasquale nada sofreu, ficou apenas com o prejuízo. Já eu sofri um pequeno corte no queixo provocado por uma batida durante o capotamento, pois meu rosto bateu contra o capacete do Pasquale, que estava na frente. Naquela ocasião, eu usava uma camisa preta e uma calça jeans escura que ficaram totalmente brancas devido à poeira que levantou no acidente. Depois de passado o susto, pensei: como repórter, foi muito bom sentir a sensação de voar, mas sofrer um acidente aéreo seria demais. 

A partir daquele sábado, todos os demais voos foram suspensos devido ao acidente. Mas, no domingo, 7 de junho, todos os integrantes do Caipiras dos Ar estavam novamente na pista da Cerâmica Gerbi promovendo voos, a maioria deles de 15 minutos, levando adultos e crianças ao preço, na época, de 20 mil cruzeiros (adultos) e 15 mil cruzeiros crianças.

Apesar do acidente, a Aviação sempre continuou sendo para mim uma paixão. Sempre que possível, leio e pesquiso sobre o assunto em livros e também na internet. Constantemente, fico observando o site Flight Radar 24 (www.flightradar24.com), que permite visualizar, em tempo real, onde estão todos os aviões no mundo. Em 2014, fui mais longe e fiz o curso de comissário de voo na Pro Flight Escola de Aviação, em Campinas. As aulas aconteciam aos sábados e, por cerca de seis meses, tive a oportunidade de conhecer ainda mais sobre o quanto é importante a segurança na Aviação e principalmente o papel que os comissários desempenham dentro das aeronaves. Para ser um comissário de voo tem que estar preparado para casos de emergência a bordo, ter conhecimento sobre primeiros-socorros, além de dominar técnicas de sobrevivência e saber agir em casos extremos. Levei muito a sério o curso e aproveitei o máximo possível os ensinamentos na Pro Flight. Em novembro de 2014, consegui a licenciatura na carreira de comissário de voo, sendo aprovado na prova promovida pela ANAC.

Nos últimos anos, consegui associar a Aviação ao Jornalismo. Tornei-me um spotter (fotógrafo de aviões). Sempre que possível, estou nos aeroportos fotografando todos os tipos de aviões decolando e pousando. Concluindo, a Aviação é para mim um eterna paixão, em todos os sentidos. 

numa pista de terra, feita às pressas numa área próxima à antiga Cerâmica Gerbi, onde, hoje, está localizado o Centro de Distribuição da Ypê.
Vista aérea da cidade de Amparo tirada de um Trike, uma asa-delta com motor/Paulo Domingues/ATr

 


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