Por: José Renato Nalini
05/11/2019
12:00

Minha resposta só pode ser uma: porque não consigo deixar de escrever. É uma necessidade contra a qual não luto. Ao contrário: extraio enorme prazer dessa fome de digitar, com o pensamento muito mais rápido do que os dedos, à procura das teclas que vão deixando na tela uma pálida ideia do torvelinho contido na mente.

Minha certeza pessoal é a de que cada um escreve para si mesmo. Não para imaginários leitores. Isso se chama “vocação”, que vem de “vocare”, chamar. O chamado é inelutável. Escraviza a vontade. Ela fica inteiramente submissa ao comando da consciência, ao qual se entrega prazerosamente.

A inigualável Lygia Fagundes Telles, cujos contos mereceram caprichada edição da Companhia das Letras, gosta de falar de vocação e cita com frequência, a invocar seu amigo Drummond, que a luta das palavras, é a luta mais vã. Mas quem a vive luta sempre, mal começa a manhã. Cito com liberdade, sem recorrer à fonte. Mas a menção a Lygia vem a propósito de um livro seu : “Invenção e Memória”. O que é ficção? O que é verdade? O que é autobiografia? Ninguém sabe distinguir, depois da obra escrita. Toda ela tem o DNA do autor, embora ele a qualifique como ficcional.

Paulo Nogueira, autor de “O Amor é um lugar comum”, há pouco resenhava o livro “O Rei das Sombras”, de Javier Cercas (Aliás Literatura, 23.12.2018), cuja obra transita entre a autoficção e a biografia. E aborda exatamente esse ponto: “Permitam-me uma nota pessoal: enquanto romancista e professor de Escrita Criativa, nas minhas noites de autógrafo e aulas vira e mexe rola esta pergunta: “Mas de onde os escritores retiram suas histórias?”. A resposta canônica: 1) das pessoas reais que conhece (parentes, amigos, etc.) 2) de personalidades públicas (daí o roman a clef) 3) de uma pesquisa (como no romance histórico) 4) da sua própria autobiografia 5) da sua imaginação e fantasia. Muitas vezes, a obra é uma miscelânea de todos esse mananciais”.

Escrever é um excelente exercício para manter a saúde mental. É a melhor maneira de se acertar as contas consigo mesmo. Além de suprir as deficiências do aprendizado. Quem escreve aprende a pensar. Desenvolve o raciocínio, torna atilada a consciência, ajuda a concatenação das ideias, incentivando o uso espontâneo dessa lógica natural chamada sensatez.  

Os educadores vocacionados sabem que estimular o educando a escrever é a fórmula para torna-lo curioso e ávido por conhecer outros profissionais da escrita. É o mais agradável acesso ao conhecimento e à riqueza infinita do inesgotável acervo produzido pela mente humana.

Nota da redação: José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, advogado, jornalista, escritor e Presidente da Academia de Letras – 2019-2020.


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