Por: A Tribuna
16/06/2020
15:06

Um grupo formado por 28 profissionais da área da saúde, entre médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem, que trabalham na cidade de Amparo, assinaram um abaixo-assinado cobrando para que o prefeito municipal de Amparo, Luiz Oscar Vitale Jacob (PSDB) faça uma revisão da flexibilização de abertura do comércio na cidade, concedida através do Decreto nº 6.091, de 2 de junho de 2020. O abaixo-assinado foi protocolado na Prefeitura na tarde de terça-feira, 16 de junho.

Os profissionais da saúde apontam no abaixo-assinado sobre o aumento considerável do número de contaminados e de óbitos no município nas últimas semanas, assim como a manutenção das altas taxas de ocupação dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Santa Casa Anna Cintra, hospital regional que abrange uma área com cerca de 135 mil habitantes. Eles também contestam, assim como vários outros especialistas, a elaboração do Plano São Paulo, do governo do Estado, utilizado como base para a publicação do decreto municipal. Segundo eles não ficou claro neste documento (Plano São Paulo), quais referências foram utilizadas para definição destes critérios que incluíram o município na faixa laranja, que permite a reabertura gradual do comércio.

O abaixo-assinado é encerrado lembrando que a quantidade de leitos de UTI da Santa Casa Anna Cintra não é suficiente para a demanda de aproximadamente 135 mil habitantes da região de cobertura do hospital, e que, caso o rumo não seja corrigido, em breve a cidade terá um número de óbitos inaceitável e os gestores públicos serão os responsáveis. Eles aguardam uma resposta do prefeito municipal.

 

Veja a nota na integra:

 

Nós, profissionais de saúde do município de Amparo abaixo-assinados, vimos por meio desta cobrar a Prefeitura de Amparo no sentido de rever a flexibilização do comércio na cidade, realizada através do decreto no. 6.091 de 02 de junho de 2020. Esta solicitação se apoia no aumento considerável do número de contaminados e de óbitos no município nas últimas semanas, assim como a manutenção das altas taxas de ocupação dos leitos de UTI da Santa Casa Anna Cintra, hospital regional que abrange uma área com cerca de 135 mil habitantes. No dia 28 de maio, o Governo do Estado de São Paulo publicou o Plano São Paulo no. 64.994 que dispõe sobre o relaxamento das medidas de isolamento social, permitindo a reabertura do comércio e de atividades econômicas até então suspensas, de acordo com uma classificação por cores, dos municípios do Estado. Este plano leva em consideração a taxa de ocupação de leitos de UTI, a proporção de leitos de UTI para a população da região além de dados que mostrariam a evolução da epidemia. Vários especialistas questionaram este plano. Não fica claro neste documento, quais referências foram utilizadas para definição destes critérios. Percebe-se uma tendência em classificar as regiões nas fases mais baixas (amarela e laranja), beneficiando assim o comércio e não a vida das pessoas. No presente texto utilizamos como referência a Nota técnica sobre o relaxamento do isolamento social no Estado de São Paulo previsto para o dia 1o. De junho de 2020, assinado por renomados pesquisadores da UNIFESP e USP (em anexo).

Segue análise do referido documento: À primeira vista, os indicadores para a retomada das atividades de forma segura no Estado parecem adequados, já que esses números refletem a gravidade da epidemia em um município. Dito isto, é importante ressaltar que o Governo do Estado de São Paulo não estabeleceu quais valores ou tendências esses indicadores devem ter para que um município possa pleitear estar em uma das 5 fases estabelecidas.

INTRODUÇÃO

A pandemia da Covid-19, iniciada na China no final de 2019, tem sido um desafio em âmbito mundial. Esta pandemia apresenta diversas peculiaridades que dificultam o seu enfrentamento. Diversos países no mundo sofreram (e sofrem) as consequências brutais no número de vidas perdidas e no sofrimento causado à população, devido às medidas radicais de distanciamento social. O impacto na economia, nas relações humanas, na saúde mental e em diversas áreas que talvez ainda nem tenhamos imaginado é gigantesco e devastador. Porém, como o Brasil está há alguns meses à frente destes países, tivemos a oportunidade (na verdade perdida) de nos prepararmos melhor para este enfrentamento. Poderíamos ter nos equipado melhor com testes, equipamentos de proteção individual, ampliação de leitos e expertise no enfrentamento da pandemia, utilizando os exemplos destes países. Mas não foi isto que aconteceu.

No Governo Federal houve o total descaso em relação ao problema. O presidente da república até hoje não admite a gravidade da situação. Não temos um plano concreto de enfrentamento e nem mesmo um ministro da saúde, há mais de 20 dias. No Governo do Estado de São Paulo, a princípio, houve esforços consideráveis no sentido de atingir as metas do distanciamento social. É bem verdade que faltaram ações concretas no sentido de garantir a segurança das pessoas que não poderiam trabalhar e que necessitariam de auxílio financeiro para isto, o que com certeza impactou nos níveis de distanciamento desejados, nunca atingidos no Estado. O Governo cogitou inclusive um lockdown na grande São Paulo, voltando atrás uma semana após e aparecendo com um plano de reabertura totalmente descabido, visto que estamos em aceleração dos casos e perto da sobrecarga do sistema de saúde público.

A REALIDADE DO MUNICÍPIO DE AMPARO

O gráfico abaixo mostra os níveis de distanciamento social do município de Amparo, desde o início da quarentena. A primeira coisa que nos chama a atenção é que nunca estivemos de verdade em quarentena, pois nunca atingimos a meta de 70% de distanciamento social. Podemos observar também que, a partir da semana de 17 de maio, houve uma queda na média da taxa de isolamento no município, que estava acima de 50%, para abaixo de 50%, com queda gradual ao longo das semanas seguintes. Atualmente estamos com média de 44% de distanciamento, índices muito abaixo dos 70% preconizados pela OMS. Vamos então comparar os dados dos níveis de distanciamento com a curva de casos confirmados. Os casos novos identificados hoje mostram a contaminação de dias atrás. Podemos considerar em torno de 14 dias de atraso, visto que em média 5 dias após o contágio iniciam-se os sintomas e de que os testes rápidos são realizados por volta do 10o. dia de sintoma (ou se for o RT-PCR a partir do 3o. dia, porém com demora em torno de 5 dias para o resultado). Podemos perceber que a inclinação da curva de casos ocorre por volta do dia 27 de maio, coincidindo com a diminuição das taxas de distanciamento. Porém até aqui, nenhuma novidade. Os países que já passaram pelo pico da pandemia nos mostraram que a medida mais efetiva de controle é o distanciamento social. Porém no nosso país, vemos diariamente os gestores desqualificarem esta medida, inclusive incentivando a circulação das pessoas. Vemos medidas irresponsáveis sendo tomadas, no sentido da reabertura, sendo que estamos muito longe de desacelerar a transmissão. Nenhum país no mundo chegou após o 50o. dia de epidemia com aceleração no número de casos, o que ocorreu no Brasil. Pode-se tentar justificar este aumento de casos no município com o aumento no número de exames realizados após a abertura dos Polos de atendimento e também da mudança do protocolo de coleta, ampliando a população-alvo. Os Polos iniciaram seu atendimento no dia 11 de maio, porém a aceleração é mais acentuada no final do mês. Além disso, a ampliação dos exames ainda não atinge a maior parte dos sintomáticos respiratórios, indicando que temos alta subnotificação de casos, o que também dificulta o planejamento no sentido da flexibilização das atividades comerciais. Temos mais de 300 pessoas com síndrome gripal no município que não foram testadas e que podem estar contaminadas com o coronavírus.

Taxa de contágio

Outro indicador utilizado para se pensar em reabertura é a taxa de contágio. Esta taxa mede quantas pessoas um caso confirmado contamina, em média. Está diretamente relacionada aos níveis de distanciamento social. Por estudo realizado pelo sr. Paulo Rossi na data de 04 de junho, estamos com uma taxa de 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 09/abr 14/abr 17/abr 20/abr 23/abr 27/abr 30/abr 04/mai 07/mai 10/mai 13/mai 20/mai 23/mai 27/mai 30/mai 02/jun

CASOS CONFIRMADOS AMPARO CASOS CONFIRMADOS AMPARO contagio de 2,57, acima inclusive da taxa brasileira, que está em 2,44. Para realizarmos uma reabertura segura para a população, esta taxa deveria estar abaixo de 1. Ocupação de leitos de UTI Na data de 04 de junho de 2020, o secretário de saúde de Amparo, em vídeo divulgado à população nos disse que temos 19 leitos SUS de UTI Covid no município. Como Amparo é referência para a região, e esta região conta com 135 mil habitantes, nossa meta de leitos de UTI seria 40 leitos. Assim, atingiríamos 3 leitos para cada 10 mil habitantes. Ou seja, na presente data, não temos nem a metade dos leitos considerados adequados para a nossa região. Na data de 04 de junho, a Santa Casa Anna Cintra está com 89% da sua capacidade de UTI. Outra informação importante é que na verdade este número de leitos não é real. Pois se um quarto possui 4 leitos de UTI e um paciente suspeito é internado neste quarto, perde-se os outros 3 leitos, pois não é permitido misturar pacientes confirmados com suspeitos, pelo risco de contaminação dos suspeitos. Frente a todos os indicadores apresentados, vemos que o município de Amparo não está pronto para pensar em reabertura e que o poder público deveria estar pensando em ações mais enérgicas para diminuir a circulação das pessoas, impedindo que serviços não essenciais funcionem. Não adianta fazer campanha para as pessoas não circularem, se lojas de roupas, calçados, perfurmaria, etc estão funcionando normalmente, inclusive causando aglomerações nas calçadas.

 O secretário também disse que se reuniu com secretários da região para pensarem estratégias para ampliação de leitos de UTI. A estratégia utilizada foi enviar ofício para a DRS, para o Governo Estadual e Federal neste sentido. Nos parece ingenuidade acreditar que, devido a necessidade do país inteiro em ampliar leitos de UTI, nossa região será privilegiada e terá sua solicitação atendida, na quantidade suficiente (dobrar o número de leitos). Não existe a menor perspectiva, a curto e médio prazo, da ampliação do número de leitos de UTI na quantidade que precisamos. A Nota Técnica citada anteriormente conclui: As análises mostram ainda que o isolamento social foi benéfico e responsável por diminuir o dano da curva de transmissão no Estado, embora não o suficiente para inverter a sua taxa de multiplicação. Porém, com o número de casos ainda em ascensão, sem uma clara política de testagem, com uma clara expansão do contágio das grandes metrópoles para o interior do Estado e com um índice ainda alarmante de ocupação de leitos, a redução prematura do isolamento social pode ter graves consequências. Conclui-se ainda que o esforço de 3 meses de isolamento pode retroceder em apenas uma semana, gerando o caos no sistema de saúde, que já se encontra atualmente próximo do seu limite”. Então, como não temos a quantidade suficiente de equipamentos de saúde para o ideal enfrentamento da pandemia, deveríamos estar ainda mais preocupados em diminuir a velocidade de contaminação da população, para proteger nosso frágil sistema de saúde e consequentemente a vida da população da cidade.

Caso o rumo não seja corrigido, em breve teremos um número de óbitos inaceitáveis no nosso município, devendo os gestores públicos serem responsabilizados por estas perdas.

Desta forma, aguardamos uma resposta oficial do Prefeito do município de Amparo à solicitação realizada no presente documento.

Atenciosamente,

Amparo, 10 de junho de 2020


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