Por: Antonio Carlos de Oliveira
17/08/2020
12:00

Pessimismo não. É preciso criar uma palavra que dê ânimo ao fraco, mais entusiasmo ao otimista e leve o alegre ao pico do éden. Assim pensava o escritor. Se até pessoas mais simples tinham criado palavras por que ele, um literato famoso em todo Brasil, não poderia inventar uma ?

E aqui havia uma dúvida: criar ou inventar?  Não. Não é a mesma coisa. Aliás, nada no mundo é a mesma coisa de outra coisa. Inventar, no campo da arte, não soa bem, parece até conceito pejorativo. O pintor, por exemplo, já  pensou o pessoal dizendo: ele vive inventando.

E o escritor pensava consigo mesmo: eu vou criar uma palavra e não inventar. Inventar é mais para a tecnologia. Se até o modesto narrador de futebol, na televisão, havia criado o termo OXO, ele também, o escritor, criaria o seu termo. E o que significa OXO? Trata-se do jogo que segue no zero a zero e o x é o versus,isto é, tal time zero versus o outro time zero. Alguém pode alegar que este vocábulo não entrou no nosso idioma, mas muita gente o conhece e não resta dúvida que foi muito bem bolado.Não me lembro se teria sido Milton Peruzi  ou Valter Abraão ou nenhum dos dois.

  Mas voltemos ao nosso caso. O artista da palavra continuava sonhando. Sonhava uma palavra que, quando escrita ou pronunciada, fosse extraordinariamente bela tanto na grafia, na pronúncia como no significado. Uma palavra que lembrasse a rosa, o éden, a felicidade, o êxtase e a luz da estrela chamada Aldebaran. E assim se passaram dez anos como naquele bolero antigo. Até que, um dia, estando na sala em seu trabalho,o sonho tão penosamente buscado, surgiu em sua mente. Ele pôde sentir ali um perfume inebriante no ar, quando pronunciou o termo. Pensou em chamar a secretária para que ouvisse e digitasse no computador a mágica, a mística mensagem .

  E o escritor sorriu, pensando: é impossível alguém esquecer esta palavra, depois de ouvi-la e pronunciá-la. E ficou pronunciando-a nos mais variados tons e sotaques, enchendo a sala de um odor misterioso. E ali ficou por longo momento, saboreando sua vitória. Sozinho, pois a secretária já tinha ido embora bem antes do acontecimento.

   Foi até o bar luxuoso em frente e comprou o vinho mais caro e saboroso para comemorar o seu sucesso. Voltou à sala e pouco a pouco, no rolar das horas, esvaziou a garrafa e acabou adormecendo no sofá.

   Quando acordou, a claridade de um novo dia inundava de luz a sala. E o pior de tudo é que sentia uma forte dor de cabeça e não se lembrava mais de nada. Pior ainda: não havia anotado a sua mais brilhante criação.

Nota da Redação: Antonio Carlos de Oliveira é professor e membro da Academia Amparense de Letras (AAL).

 


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